terça-feira, 15 de maio de 2012

#20


Não se faz sentido deste modo, com as coisas aos bocados espalhadas ao acaso, com as palavras gagas, a vida inteira sentada num banco de jardim longe daqui, talvez um copo de plástico na mão, alguma cerveja, alguns cigarros, a vida inteira uma coisa maravilhosa num sorriso, nos dedos tamborilando sobre as pernas, pessoas em redor falando alto e bem, rindo alto e bem, com a garganta toda às estrelas, não é nada disso, queestupidezestascoisastodasditasdecor - sim, as coisas ditas de cor que se tem de fingir coração e dedos frágeis para não se amachucarem os planos e o futuro


os planos e o futuro


com as sílabas todas devagar, sff


os
p[e]
la
nos
e
o
fu
tu
ro


marcá-las a todas como botas em gravilha.
Deixa estar. Não há de ser assim tão mau e, com sorte, não há de ser nada e com nada vive-se bem, vive-se morno, com a garganta pouco arranhada.

3 comentários:

  1. O melhor texto lido quase nestes ultimos anos,tão realista e ao mesmo tempo belo,tão triste e ao mesmo tempo solta-se um sorriso.
    Muito bom,cada vez melhor.Parabéns João

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  2. Célia Silveira Santos26 de maio de 2012 às 16:04

    Palavras sentidas,com tons de tristeza e beleza.

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  3. "... e com nada vive-se bem, vive-se morno..."


    Muito bom.

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