segunda-feira, 4 de julho de 2011

#7



as vezes que se sucedem atrás de vezes que se sucedem e a sairem-nos da boca todos os pesadelos que temos guardados para uma ou outra ocasião em que os possamos trazer à flor da pele - noite dentro de um carro junto a uma ribanceira a desaparecer em folhas e lixo -, uma ou outra vez que sozinhos querendo não estar tão sós não querendo nada ninguém coisa nenhuma nenhum som nenhuma ausência, as porta do carro um braço a impedir a queda e, no entanto, de vez em quando, as vezes que se sucedem e nós com a língua carregada de sons, na garganta frases que arranham demasiado, uma tosse profunda que precisa de ser libertada, vezes que se sucedem atrás de vezes, tanto veneno, tanta coisa maldita,

e de repente os olhos como que rompem uma película aquosa e voltamos a ver, voltamos ao mundo, somos normais, não deliramos, não odiamos ou amamos demasiado, nada demasiado, apenas nós - uma porta fechada a janela aberta alguma música um cigarro a prender-nos ao assento alguém a quem falar ninguém a quem falar e, afinal, não importa.

mentira.



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