domingo, 25 de março de 2012

#18



à porta de casa

em frente a demolição da escola:
na terra revolvida
trincheira
os rostos e as vozes de antes
adeus,
boa noite
ao vizinho de quem se diz
que bebe demais
que bate na mulher
que bate no cão
enquanto uma televisão
lamento de amores impotentes
vibrando violinos gatos
uma comédia com esgares tremendos
e bandas filarmónicas marchando piscando o olho,

a pensar escrever poemas insuflados
palavras complicadas para impressionar concorrentes
ou
como escrever poemas
com pessoas agredidas na rua
amigos com milhares de quilómetros entres as frases
os bolsos pesados de ar
a boca sufocada em pó
ou
«escrever poemas»
para quê
tantos pormenores
a bordejarem as franjas do coração
se um anzol à língua e a garganta estreita gruta,
adeus ao vizinho a mão no ar
como à escola destruída acenando lento
boa noite às pessoas nas valas comuns.

para quê poemas
se falta o peito contra as balas
se faltam as balas ou a língua.



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