segunda-feira, 23 de maio de 2011

#1

as pessoas agarradas a jornais as pessoas com maus fígados a beberem café e um copo de água as pessoas caladas as pessoas mal dispostas de manhã a gritarem com o mundo as pessoas a olharem para a janela as pessoas como fungos as pessoas que foram as pessoas que nunca as pessoas no escuro a ouvirem outras pessoas dormir as pessoas um golpe de sorte um jogo da moeda as pessoas ruído as pessoas braços e lábios numa varanda as pessoas desaparecidas as pessoas rasgões na retina na memória na língua as pessoas sem alento as pessoas de braços no ar e fogo nos passeios da avenida as pessoas bêbedas porque outra coisa por vezes insuficiente as pessoas um cigarro porque às vezes a demora as pessoas com pressa as pessoas como um puzzle as pessoas sorridentes as pessoas com medo sempre com medo as pessoas passado e as pessoas futuro as pessoas como um projecto a ser realizado sem intenção com intenção por acidente por acaso solarento as pessoas em fotografias ou num novelo de rostos irreconhecíveis porque as pessoas por vezes inenarráveis por vezes um lugar sem janela por vezes terrivelmente difíceis de amar.

2 comentários:

  1. Saudades de te ver aqui,continua a ser tão bom ler-te.Fico sempre agarrada às linhas encontrando-me no meio delas e assim entender as palavras escritas.Um beijo
    Mãe

    ResponderEliminar
  2. E este é a Mãe,não anónimo.

    ResponderEliminar